sexta-feira, 13 de abril de 2012

Softwares desenvolvem senso ritmo dos surdos



Tecnologia e acessibilidade




Segundo a professora Teumaris Regina Buono Luiz, o que é o ser humano sem a comunicação, sem a for­mação dos conceitos que chegam pelo ouvido? Sua pesquisa de doutorado, orien­tada pelo professor Paulo Ferreira de Araújo (FEF) e viabilizada em parceria com a Universidade Federal do Paraná (UFPR), resultou em dois softwares visando ao desenvolvimento do senso rítmico dos surdos, uma rica contribuição a educadores, terapeutas     corporais, fonoaudiólogos e crianças com surdez de severa a profunda.  


 Atuando junto à comunidade de surdos em Curitiba desde 1997 e, por­tanto, apta a mensurar a necessidade de amenizar este déficit com relação ao ritmo, Teumaris Luiz instiga o ou­vinte à reflexão. “O ritmo é um aspecto extremamente importante nas ações do ser humano e da natureza. Os fenôme­nos são cíclicos (rítmicos) e tornam possível a adaptação das espécies às mais diversas tarefas.


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 Projeto original


Como projeto de mestrado em 2001, ela idealizou e levou a campo o Programa de Atividade Rítmica Adap­tada (PARA), baseado em método pro­posto pelo professor Iverson Ladewig, da UFPR. “A ideia é estimular os sen­tidos remanescentes do surdo, que são a visão e o tato, para que ele perceba o ritmo ditado no ambiente (a música tocada) em seu parâmetro ‘velocidade’, por meio de dicas visuais”.
Os estudos pilotos foram realizados no Cepre (Centro de Estudos e Pesqui­sas em Reabilitação “Gabriel Porto”) da Unicamp. Em um quadro imantado foram dispostos oito ímãs com dese­nhos de tartarugas para compreensão do ritmo lento e de coelhos para o rit­mo rápido. Tocando cada figura com a mão, na velocidade do ritmo executado no ambiente, a pesquisadora pedia às crianças surdas que realizassem movi­mentos seguindo as dicas visuais. “Elas passaram a compreender melhor as no­ções de ritmo e a realizar movimentos corporais de forma livre, sem ter que copiar um instrutor”.


 Batidas e vibrações


Os dois softwares que frutificaram da tese foram elaborados em parceria com o Grupo Imago (da UFPR), co­ordenado pelos doutores Olga Regina Pereira Belon e Luciano Silva, e com a colaboração dos bolsistas André Mallaguini e Lílian Mohira. O primeiro software, chamado BPM Counter, é igualmente baseado nas dicas visuais para orientar as ações motoras rítmicas do surdo.


“Na tela do computador surgem oito quadrados pretos, que são colo­ridos em sequência de vermelho ou azul, dependendo do andamento (ve­locidade) solicitado no campo descrito em BPM. Conforme o quadrado vai sendo pintado, a criança pode começar batendo os pés direito e esquerdo no chão, dificultando-se as ações paula­tinamente, até deixá-las livres, ainda assim, no ritmo externo escolhido”, explica a pesquisadora.


O segundo software, na versão VPM (vibrações por minuto), surgiu da proposta de um surdo que percebeu um evento rítmico gerado pelo seu telefone celular no modo vibracall. “É uma ferramenta para ser instalada em celulares, por meio da qual se acessa um gráfico que faz o aparelho vibrar no ritmo tocado no ambiente. As crianças podem segurá-lo na mão ou juntá-lo ao peito para sentir a vibração mais intensamente”.


Teumaris Luiz observa que a aqui­sição do ritmo para uma ação motora é uma atividade estreitamente interligada com a dança e que, para os surdos, tor­na-se bastante interessante contar com softwares que exploram o sentido tátil e o visual para extrapolar os movimentos simples.


A autora da tese lembra que, na dé­cada de 1990, em várias iniciativas para aproximar os surdos da dança, uma pessoa servia de modelo, em tempo integral, executando os movimentos em algum lugar em que eles pudessem visualizá-la. “Isso diminuía a auto­nomia, que com o software é maior, permitindo ao surdo fazer seu próprio movimento sem perder o ritmo”.


Desde seu início em 2001, o projeto de Teumaris Luiz vem repercutindo no país e no exterior, como nos renomados congressos de atividade física adaptada de Oregon (EUA) e Verona (Itália).


Atualmente a Tecnologia tem mudado a vida das pessoas com deficiências, através de ferramentas, produtos e serviços que promovam qualidade de vida dos mesmos, no sentido de reabilitação e acessibilidade. 
Esse projeto da professora Teumaris, com certeza deve ser aplaudido e difundido, pois privilegia uma camada excluída de nossa população, principalmente, o grupo pertencente a camada de baixa renda. Além do que, referido projeto sem dúvida permite melhor interação do surdo com a comunidade auxiliando-o na superação de barreiras com efetiva participação em igualdade de oportunidade com as demais pessoas.


Realizando pesquisa sobre o assunto, é importante destacar que está em vigor o Decreto nº 6.949, de 25/08/2009, que promulgou a Convenção Internacional sobre os Direitos das pessoas com deficiência, o que representa um avanço legislativo no Brasil.


Texto extraído do site: www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/jur







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